sábado, 1 de novembro de 2014

Atravessando a Fronteira do Oi

Trechos do Texto de Martha Medeiros

... Sempre cruzava na rua com uma fotógrafa que eu conhecia de vista. Eu dizia oi, ela dizia oi. Essa emocionante troca de ois constitui toda a nossa "relação".
No entanto temos uma querida amiga em comum. Contei para ela que estava indo para Londres. Tiraria uma semana de férias, sozinha. essa minha então disse: "Você vai estar lá no mesmo período que a Eneida, a fotógrafa. Quer o email dela? 
Encurtando a história: escrevi. Trocamos endereço  telefones e afeto. E isso tudo me fez pensar no seguinte: nós duas moramos na mesma cidade e, no entanto nenhuma das duas jamais pensou em convidar a outra para jantar, por uma razão muito simples: somos duas estranhas, mesmo pessoas que já poderíamos ter conhecido há mais tempo -mas que não víamos necessidade.


Viajando, ficamos mais propícios ao risco e à experimentação. Encaramos bacon no café da manhã, passeamos na chuva, vamos ao supermercado de bicicleta, dormimos na grama, comemos carne de cobra, dirigimos do lado direito do carro, usamos banheiro público, fazemos confissões a quem nunca vimos antes. O passaporte nos liberta nos liberta não só para a entrada em outro país, como também para a entrada em outro estilo de vida, muito mais solto do que quando estamos em casa, na nossa rotina repetitiva.
... No momento que você lê essa crônica eu já jantei com a Eneida. Já nos tornamos amigos de infância. 
O que importa é que atravessamos a barreira do oi, esse cumprimento protocolar que tão raramente progride para uma proximidade de fato. Eu teria uma dúzia de razões para explicar porque gosto tanto de viajar, mas por hoje fico com apenas esta: PELA ALEGRIA DE VIVER E PELA FALTA DE FRESCURA.


Texto do Livro Feliz Por Nada

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